Emmanuel Bezerra dos Santos (São Bento do Norte-RN, 17 de
junho de 1947 - São Paulo, 4 de
setembro de 1973). Emmanuel foi um estudante, poeta[e militante político
durante o período da ditadura militar no
Brasil.
É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, que apura mortes e desaparecimentos na ditadura
militar brasileira.
Filho do pescador Luís Elias dos Santos e Joana Elias Bezerra,
nasceu em 17 de junho de 1947 em São Bento do Norte, na praia de Caiçara,
que na época era um distrito muito próspero de pescadores na região.
Estudou na Escola Isolada São Bento do Norte, onde fez o curso
primário. Em 1961 transfere-se para Natal, passando a residir na Casa do Estudante e a estudar no Colégio Estadual do Atheneu
Norte-riograndense. Quando cursava a terceira série do curso ginasial,
Emmanuel, juntamente com outros colegas, funda o jornal "O Realista",
onde ele e seus colegas fizeram denúncias sociais. Após o término da escola, já
na época da ditadura milita, fundou
"O Jornal do Povo", cujas publicações libertárias eram realizadas por
correspondentes em diversos municípios. No Atheneu estuda até o primeiro ano
clássico, em 1965. No ano seguinte,
ficou doente e teve que interromper seus estudos por um tempo, voltando logo
depois para a Faculdade[2.
No ano de 1967, ingressou na Faculdade de Sociologia da Fundação José Augusto, onde atuou no Diretório
Acadêmico “Josué de Castro”. Foi eleito
presidente da Casa do Estudante, onde
moravam os estudantes pobres do interior e que mais tarde serviria de
trincheira de luta do movimento estudantil (secundaristas
e universitários) de Natal. Foi delegado junto
ao 29º Congresso da UNE em São
Paulo.
Em 1968, tornou-se diretor do Diretório Central dos
Estudantes da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, tendo papel de liderança
no movimento estudantil universitário.
Também organizou a bancada dos estudantes potiguares para o 30º Congresso da
UNE, em Ibiúna (SP), onde foi
preso e logo depois expulso da universidade.
ATIVISMO
Em 1966, entrou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e se tornou um dos principais articuladores
nacionais. Em 1967, deixou o PCB para entrar no recém fundado Partido
Comunista Revolucionário (PCR). Com a edição
do Ato Institucional Número Cinco,
Emmanuel é preso (dezembro de 1968),
condenado cumprindo a pena até outubro de 1969 em quartéis do Exército, Distrito Policial e
finalmente na Base Naval de Natal.
Libertado, o estudante imerge na clandestinidade, indo atuar politicamente (já
como dirigente nacional do seu partido) nos Estados de Pernambuco e Alagoas.
Nesse período, realiza viagens ao Chile e Argentina em missão do partido, buscando aglutinar exilados
brasileiros à luta em desenvolvimento no país. Além de militante político,
Emmanuel era uma pessoa voltada para a arte e cultura, tendo participado dos
movimentos artísticos desenrolados na capital Natal. Rabiscou seus primeiros
poemas adolescentes ainda na sua longínqua Caiçara do Norte. Apesar das
atribulações da vida clandestina, foi possível salvar alguns dos poemas de sua
autoria.
Além da sua atuação militante, Emmanuel participou de atividades
artísticas na cidade de Natal (RN) e escreveu poemas na adolescência.
PRISÃO E MORTE
A versão dos policiais é a de que Emanuel e Manoel, teriam
morrido em tiroteio com a polícia no Largo de Moema, em São Paulo,
no dia 4 de setembro de 1973 Um teria matado o outro em um tiroteio com
agentes da polícia. Nesta versão, observada no relatório do Inquérito
Policial, do Departamento de Ordem Política e
Social de São Paulo (DOPS), Manoel teria
confessado à polícia de seu encontro com Emmanuel, recém chegado do Chile, no
Largo de Moema. Então, os agentes da repressão fizeram uma emboscada para
Emmanuel. Após o avistarem, deram voz de prisão ao militante, que teria atirado nos agentes. Eles reagiram atirando
de volta na direção dos dois. Emmanuel e Manoel teriam morrido quando estavam
sendo levados para o Hospital de Clínicas.
Tal versão ainda é apresentada nos documentos de exame necroscópico de Emmanuel,
que foi assinado pelo delegado Edsel Magnotti. Anos depois, no relatório
do Ministério da Aeronáutica enviado
ao Ministério da Justiça, em 1993, ainda afirmava a versão de que os dois militantes
teriam sido mortos em um suposto confronto com os agentes da repressão.
Mas, segundo denúncias de presos políticos da época, Emmanuel e
Manoel foram presos em Recife, no dia 16 de agosto de 1973.
Emmanuel foi levado para o DOPS de Pernambuco, sendo torturado por vários dias.
Depois, foi transferido para São Paulo, pelo policial Luiz Miranda e entregue
ao delegado Sérgio Fleury]. Na capital paulistana,
Emmanuel foi torturado até a morte no Destacamento de Operações de Informações
- Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI-SP), quando o mutilaram, arrancando-lhe os dedos, umbigo,
testículos e pênis. Na ocasião estava junto com o seu companheiro Manoel Lisboa
de Moura, que havia sido aprisionado desde o dia 17 de agosto em Recife.
A sua necropsia foi realizada pelo médico Harry Shibata, que assinou o laudo sem examinar o corpo e omitiu todas
as marcas de tortura presentes em seu corpo. Fotografia recuperada pela Comissão
da Verdade mostra Emmanuel já morto e muito
machucado Ficou evidente a violência sofrida no
DOI-CODI. Seu olho esquerdo estava inchado, seus lábios também machucados,
havia ferimentos em seu rosto, seu nariz aparecia quebrado e em volta do seu
pescoço estava feito um colar de morte, marcado com ferro em brasa. Emmanuel
Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura foram enterrados como indigentes no
Cemitério de Campo Grande, em São Paulo.
Em decisão de 23 de abril de 1996, a Comissão
Especial sobre mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)
reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro pela sua morte. Seu nome
conta no dossiê ditadura; mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964 -
1985) organizado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.
Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Estado de São
Paulo, prestado durante audiência pública no dia 6 de setembro de 2013,
Edival Nunes Cajá, ex-preso
LEGADO
Em 13 de março de 1992 seus restos mortais foram exumados, periciados e
identificados pela equipe de legistas da UNICAMP. Trasladados para Natal em julho de 1992, os despojos seguiram em cortejo para São Bento do Norte e em meio a
grande comoção da comunidade local, foram enterrados no cemitério da cidade.
Emmanuel recebeu diversas homenagens do povo do Rio Grande do
Norte: a Escola Isolada de São Bento do
Norte, tem hoje o seu nome; o Grêmio Estudantil da
Escola Estadual João XXIII, também é homenageado, e é nome de rua no bairro de
Pitimbu, em Natal. Após a entrada em vigor da Lei no. 9140\ 95, os familiares
de Emmanuel obtiveram o reconhecimento da responsabilidade da União na sua
morte, fazendo jus a respectiva indenização.
Como homenagem a sua luta e representação durante a ditadura
militar, Emmanuel ganhou um livro com seu nome "Emmanuel vida e
morte". A obra, feita por diversos de seus amigos de infância, familiares
e conhecidos, é um diário vivo de como era ter vivido com o estudante e o que
ele representava para cada um que dedicou seu tempo para escrever um pouquinho
sobre Emmanuel. O início do livro ainda conta com o depoimento da então
prefeita da cidade de São Paulo, Luiza
Erundina de Sousa, com a data de 13 de março
de 1992, lá ela diz da importância do
compromisso de buscar a verdade e justiça para aqueles que sofreram qualquer tipo
de repressão durante o regime
militar e conclui declarando que apesar de não ter conhecido o estudante, o
considerava "um jovem amante da liberdade e da justiça".
FONTE - WIKIPÉDIA
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